A história revela que a preocupação com o tratamento de feridas sempre existiu, manuscritos egípcios que datam de 3000-2500 a.C, e neles são mencionados curativos à base de mel, graxa, fios de linho e diversos tipos de excrementos, que faziam parte dos princípios da farmacopéia egípcia,era vasta e a forma de ministrar as diferentes drogas eram variadas: pílulas, bolos, supositórios, banhos, pomadas, cremes, gargarejos, defumação.
Eram preparados cataplasmas (são usadas sobre a pele e órgãos subjacentes, como se fossem uma compressa e, geralmente, são aplicadas frias, sobre inflamações, feridas doloridas e de difícil cicatrização, contusões agudas etc), de folhas e ervas, com o intuito de estancar a hemorragia e facilitar a cicatrização. Foram muitas as substancias utilizadas como curativos para feridas através dos tempos; algumas curiosas, algumas teoricamente benéficas e outras repulsivas.
O uso de penas, mel, casca de árvore, trapos e papel já fizeram parte do tratamento de feridas através dos tempos. Esterco seco de cabra, mel fervido em vinagre, cabeça de formigas...pertencem esta lista que mais aparece bruxaria. Essa é somente uma pequena parte da saga do tratamento de feridas através dos tempos.
As feridas, nos tempos antigos, eram, na sua grande maioria, provenientes de acedentes e de guerras do que induzidas cirurgicamente. O excremento de animais foi uma opção durante um período e podemos imaginar a quantidade de infecção e tétano causados em decorrência desta técnica. Ainda neste século XX, o uso lavagem de feridas, assim como urina humana, em situações de emergência nas batalhas de guerra. Ambos tinham o mérito de serem fluidos estéreis prontamente disponíveis. Enquadra-se nesta categoria o mel que foi recomendado durante alguns milhares de anos, por se tratar de uma substância relativamente livre de patógenos ( que causa doença) e de possuir um emoliente suave.
TÉCNICAS
Os primeiros registros escritos das técnicas médicas e cirúrgicas vêm do Egito Antigo, onde em dois papiros (uma espécie de pergaminho e um dos mais velhos antepassados do papel) de médicos famosos, assim como em alguns hieróglifos (a complexa escrita sagrada dos faraós) encontram-se muitos detalhes sobre o tratamento de feridas há muitos milhares de ano antes de Cristo. Nestes documentos foram descritos os tratamentos para todos os tipos de lesões, desde fraturas, lacerações até cirurgias.
A cirurgia hindu era muito avançada nos séculos que conduziram ao tempo de Cristo e foi registrada por escrito por cirurgiões famosos. Novamente, bandagens e cataplasma eram os tratamentos favoritos para as feridas.
Indo a direção à Europa, os grandes médicos da Antiguidade eram, com certeza os gregos. Eles influenciaram, em muito, os grandes cirurgiões romanos em suas técnicas desenvolvidas durante as guerras. Milhares de anos depois Hipócrates, foi um médico da Antiga Grécia, considerado por muitos como um das figuras mais importantes da história da medicina - é freqüentemente considerado o 'Pai da Medicina', utilizava formas simples no tratamento de feridas, aplicando suaves bandagens em contraste com os estranhos caprichos de seus predecessores. Ele percebeu que deixar a natureza promover a cicatrização era melhor maneira de curar a ferida. Hipócrates pensava que as bordas das feridas deveriam ser mantidas secas e o mais aproximado possível para permitir a cicatrização por primeira intenção, o que significava cicatrização sem sepsis, muito diferente dos avanços anti-sépticos do século 19, quando se pensava que a supuração era essencial para a cicatrização.
Devido ao seu grande exército, os romanos possuíam uma técnica cirúrgica altamente avançada especialmente considerando que não havia anestesia a não ser o ópio e o álcool. As feridas de cirurgias eletivas e aquelas causadas nas batalhas eram tratadas energicamente, sendo irrigadas com vinhos, água e óleo. Eram feitos cataplasma com pão, trigo e muitas outras substâncias. Sais de cobre e outros metais eram utilizados como adstringentes; figos eram colocados sobre lesões ulcerativas. Muitos procedimentos possuíam bases científicas posteriormente identificadas, como, por exemplo, o figo, que possui a enzima papaína, hoje amplamente utilizada.
A doutrina do “pus louvável” foi introduzida nos tempos romanos pelo Grande Galeno
(131-201 d.C.), o maior médico grego depois de Hipócrates. Ele cuidava da dieta e dos ferimentos dos gladiadores e se gabava que nenhum deles havia morrido em suas mãos, o que parece improvável, já que o único recurso de que dispunha para tratar ferimentos horríveis era lavá-los com vinho.( The Story of Wine.Mitchell-Beazley. London. 1989). Ele observou que os ferimentos não sofriam putrefação quando tratados com vinho e que, quando ocorria evisceração, banhando-se as alças intestinais em vinho, antes de recolocá-las no abdome, evitava a peritonite. A propósito, o manuseio de ferimentos profundos permitiram a ele estudar anatomia e avançar a técnica da cirurgia.
Galeno elaborou uma lista de remédios vegetais, conhecidos como 'galênicos', a maioria dos quais era composta com vinho.(PICKLEMAN, J.A glass a day keeps the doctor.Am. Surgeon)
Seus escritos foram mal interpretados e seguidos sem contestação durante séculos. As feridas eram torturadas a fim de tornarem-se sépticas, mesmo que estivessem limpas desde o inicio. Através da cauterização com ferros quentes, mantendo a ferida aberta e aplicando todo o tipo de ungüentos e pomadas, todas as tentativas para uma cicatrização natural foram frustradas.
Alguns médicos famosos, como Henrique de Mondeville, no século 13, e Paracelsus, no século 16, tentam voltar aos métodos de Hipócrates, porém seus colegas reacionários persistiam em intrometer-se no tratamento das feridas utilizando-se métodos sépticos. Estes métodos persistiram até a Revolução Cientifica de Pasteur e Lister, no século 19.
Desde que a relação entre as bactérias e a infecção ficou conhecida através de Pasteur, um cirurgião inglês, Joseph Lister, iniciou suas tentativas nos sentidos de combater quimicamente as bactérias e infecções cirúrgicas. Conhecido como o pai da cirurgia moderna, Lister utilizou pela primeira vez uma solução de fenol (ácido carbólico) em compressas e suturas, conseguindo reduzir os índices de mortalidade entre os pacientes. Escolheu o ácido carbólico que, sabia, tinha funcionado nos esgotos de Carlisle. Por volta de 1860, Gamgee descobre o processo de remoção do óleo da lã de algodão, tornando-o absorvível, e cria o chumaço de algodão envolto em gaze, ainda hoje utilizado.
Entre o final de 1840 e a Segunda Guerra Mundial, o foco para o tratamento de feridas e cicatrização foi a utilização de anti-sépticos e agentes tópicos com ação antimicrobiana e a proteção com coberturas secas, como conseqüência às descobertas de Pasteur sobre a 'Teoria dos Germes'. Nessa fase, dá-se o período áureo de utilização de anti-sépticos como o líquido de Dakin, Eusol, derivados de iodo, mercúrio e alumínio
A partir do século XIX, durante a Guerra da Criméia, foram criados vários tipos de curativos, à base de fibras de linho, que, sendo reutilizadas várias vezes, se tornavam gradativamente mais macias, mas eram pouco absorventes. A enfermagem, que acompanhava os avanços da medicina, foi responsável, através de Florence Nightigale, pela introdução de procedimentos que hoje cercam todo o ato cirúrgico, como o uso de ambiente limpos, água pura, drenagem eficiente e luz adequada.
Florence Nightigale foi uma enfermeira britânica que ficou famosa por ser pioneira no tratamento a feridos de guerra. Já no século XX, a cirurgia moderna e os cuidados com ferida giram em torno do conceito da assepsia. Os curativos tornaram-se estéreis, assim como as mãos dos cirurgiões são lavadas e seus procedimentos seguem técnicas assépticas.
Os materiais dos curativos têm sua história especifica. Linho e fibra foram os mais populares durante um longo tempo, porém à lã, cânhamo, algodão e flanela também eram empregados. Estranhamente, muita preferência à lã, quando mais suja melhor, talvez por ser esta mais macia.Até o advento da anti-sepsia os curativos eram reaproveitados várias vezes mesmo que estivessem ensopados em pus.
Finalmente, os cuidadosos para com as feridas adotadas na cultura ocidental contemporânea seguem o progresso do conhecimento científico. O maior avanço do século XX foi o advento dos antibióticos, utilizados, por aplicação local através de pulverização ou por incorporação do material no próprio curativo. A simplicidade no tratamento de feridas veio com o desenvolvimento de materiais como os filmes transparentes porosos para cobertura de feridas ou mesmo métodos como a exposição completa da ferida sob condições estéreis. Em 1982 as coberturas à base de hidrocolóides são lançadas nos Estados Unidos e Europa, passando a ser largamente utilizadas em feridas de espessura parcial. Tais coberturas só foram disponibilizadas no mercado brasileiro a partir da década de 1990, e seu custo elevado foi uma barreira inicial para sua difusão. Também no início dos anos 90 são lançados os hidropolímeros, que, além de manter o meio úmido, agregavam a propriedade de promover a evaporação do exsudato, favorecendo a granulação e diminuindo a maceração de tecidos neoformados.
Hoje em dia, existe grande variedade de materiais e sintéticos disponíveis no mercado facilitando a opção do profissional de saúde pelo material mais adequado para cada tipo de ferida.
Os conceitos de cicatrização, em seus diversos aspectos, e ressalta a importância da atuação multidisciplinar na abordagem das feridas, bem como a percepção do paciente como um todo. São abordados os aspectos econômicos que representam as feridas agudas e crônicas. Apresenta ainda os recursos que podem auxiliar o processo de cicatrização, bem como os diversos tipos de curativos disponíveis.
Pesquisa Internet
Podologista/ Podólogo Orlando Madella Jr